mas nós dançamos no silêncio

choramos no carnaval

não vemos graça nas gracinhas da tv

morremos de rir no horário eleitoral

sábado, 30 de outubro de 2010

sexta...

Chovia e estava frio. Eu estava razoavelmente feliz. Faltava alguma coisa, faltava alguém. Talvez foi a primeira vez que senti um vazio tão grande. Eu que sempre gostei da solidão, agora estava entediando-me com ela. Já não conseguia fazer companhia à mim mesma como antes fazia. Senti todo o peso de uma noite de sexta-feira vazia.
Nada me prendia a atenção. Nem televisão, computador, nem mesmo os livros que sempre foram a minha fuga conseguiram me conquistar nesta noite. Ficaram jogados no criado-mudo. Mudos.
Eu escutava o barulho lá fora, e todo aquele que ia além da chuva. Tudo isso em sintonia não parecia o suficiente para preencher a minha alma e estampar um sorriso em meu rosto.
Então bateu aquela velha saudade. Uma vontade louca de pegar o telefone e ouvir um alô de alguém que tem a alma colorida. Mas a razão mandou o coração calar-se. E ele obedeceu, mas ficou chorando...
Porém eu senti... senti que o frio não ocupava só o meu quarto, e que ao som da mesma chuva tinha alguém querendo o mesmo que eu... mas muito nos dividia.

"o fascínio é fascinante, deixa gente ignorante fascinada"

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Tempo.

É confuso ver como o tempo passa, mas certas coisas não passam. Ficam ali, paradas como um coração que já não bate mais. O tempo é mesmo indecifrável e não há dicionário capaz de dizer o que ele é.

Têm outras coisas que passam rápido demais, como uma brisa de verão, que sentimos tocar nossa pele, e logo não está mais ali. Às vezes sentimos falta, e outras vezes não nos dá nem tempo de sentir o prazer de sua presença, e se vão.

Mas as coisas que ficam são as marcas do tempo. Uma pessoa, um lugar, uma palavra, um olhar sincero, uma despedida, um beijo, um abraço inesperado, uma noite, um passeio, às vezes até uma dor, uma perda ou uma saudade. São coisas que marcam. Marcam o coração, povoam os pensamentos, constroem histórias, marcam a pele com o passar dos anos, talvez explicando o que o tempo é.

Então o tempo é uma utopia, parece estar fora da realidade. E nós sempre queremos uma tradução perfeita para tudo. Mas para o tempo? Quem ousa defini-lo?

Só vivendo. Vendo os dias passar e a quantidade de lembranças vão escrevendo o nosso livro. Talvez um dia descobriremos o que quer dizer o tempo. Quando finalmente pegarmos o nosso livro para escrever FIM.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

.primavera.

Talvez eu precisasse que me ouvissem, embora não me importava se compreendessem. Palavras em preto e branco que ninguém lia. Restavam dúvidas e sobrava saudade. Como aquelas noites quentes de verão, onde todo mundo sai tomar sorvete. Você fica apenas olhando, e sente frio. Porque é diferente. E ser diferente não nos torna adaptáveis. Então debruço-me na janela e fico a olhar os carros passando na rua de baixo. Gente e música. Música que eu não compreendo. Que não chega a tocar minha alma, tão sensível e ao mesmo tempo tão faminta. Então recolho-me e tento alguns acordes no violão. Aí eu sinto. Sinto cada um deles tocando a minha alma, embora não me digam nada e não componham melodia alguma. Mas aquela fome de arte e ilusão vai sendo saciada. E o que eu não encontrei lá fora, acabo encontrando dentro de mim mesma. E passa o frio. E parece que sinto o verão chegar junto com uma canção suave. Verão com ar de primavera. Alguém entendeu? Não importa.