mas nós dançamos no silêncio

choramos no carnaval

não vemos graça nas gracinhas da tv

morremos de rir no horário eleitoral

sábado, 29 de janeiro de 2011

Sem beijo de despedida

O som do garfo raspando no prato era o único que eu ouvia naquele meio dia nublado. Meu pensamento pairava longe, parecia que eu estava lá em cima, em meio às nuvens, buscando uma explicação mas vendo tudo cinza, cinza e vago. Vago e leve, de uma leveza tão pesada que em segundos voltava para a terra, para o branco da porcelana da cozinha, sentindo o gosto amargo de uma refeição vazia.
Eu sabia que eu não era aquele corpo que eu alimentava, nem a roupa amarrotada que eu vestia. Mas eu não podia fugir da condição de ser humana, bem como não podia fugir da saudade que colocava em meus olhos o peso das lágrimas que eu não derramava porque eu queria ser forte, porque eu só queria uma explicação ou uma certeza. Porque eu tinha que ser forte, e tantos outros porques que a gente só tem quando alguem que amamos vai embora, cedo demais... Então nos vemos pequenos e inseguros diante da grandeza da vida e da morte. E aquele sorriso que encontrava todas as manhãs agora era só lembrança... Lembrança do abraço que eu não dei, das flores que eu joguei fora e dos almoços na cantina da esquina.
(Nessas horas que todos pedem que tenha força, mas que se dane a força...)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Saudade do que não foi.

Ela fala por todas as coisas que buscava e encontrava em uma só pessoa. Os dias amanheciam coloridos, com cara de férias de escola, porque ela sabia que logo ele estaria lá, explosivo, emotivo, apaixonado por tudo, brilhando à luz do sol. E todo mundo olhava, e ela sorria, e sabia o quanto ele a entorpecia com o veneno mais doce, dando-lhe a agradável sensação de estar viva. Ele a carregava pela casa e brigavam de mentirinha. Ela sempre sabia o que dizer e ele ficava surpreso, e os dois acalmavam-se no mais tenro laçar de braços. E o tempo passava doce e calmo por entre dois sorrisos. Ele não exigia o amor dela e ela não exigia o amor dele, mas o amor, porém, os abraçava todos os dias sem que precisassem pedir. Linda Gabriela. Não sabe que esse poema é para ela, sem que exista, embora real na doçura do encontro de dois corpos. Ela tem costume de ter saudade do que nunca aconteceu. E ele pensa nela todos os dias. E isso tudo foi amor.