mas nós dançamos no silêncio

choramos no carnaval

não vemos graça nas gracinhas da tv

morremos de rir no horário eleitoral

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O vale infinito.

Foi quando os olhos tocaram o horizonte que o infinito do mundo pareceu sorrir pra gente. Era uma multidão de pessoas floresta. Pessoas sim. Árvores sentem, e pareciam brincar com o vento. Então eu as chamei de pessoas. Talvez não devesse, porque chego a pensar que as árvores são mais nobres. Mas o que importa é que elas estavam lá, e quanto mais nós olhávamos, mais elas cresciam. Cresciam na direção do horizonte e as perdíamos de vista. Viravam um gigante campo verde, e a gente, na beira do vale, nos transformávamos em seres pequeninos diante de tanta grandeza.

Então o sol decidiu se pôr. O tom alaranjado foi tomando conta como pinceladas ligeiras em uma tela azul-celeste. E o sol sorriu nos desejando boa noite. E a imensidão, até então verde, ficou dourada aos nossos olhos. Dourada como o ouro. E aqueles resquícios de raios de sol que tocavam o rosto dele o faziam ainda mais belo. Eu pude ver seus olhos castanhos ficarem verdes, como as árvores. Então eu percebi que era o infinito a coisa mais linda que eu já vi, e nesse momento, o infinito estava na minha frente, no dourado do sol, no verde do vale, e no colorido dos olhos dele.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A menina e a chuva


Era uma vez uma menina que gostava da chuva. Gostava tanto que nos dias ensolarados rabiscava em seu caderno traços finos como os pingos que caem. Ficava, então, a admirar seus traçados em cor grafite. Eles criavam vida diante dos seus olhos.
Ela gostava dos raios e dos trovões e gostava da cor acinzentada que preenchia o céu antes da chuva. Na verdade, ela olhava para o cinza claro do céu e lembrava dos olhos de um garoto. O garoto não gostava da menina, mas a menina gostava do garoto, assim como gostava da chuva.
Um dia a menina pulava nas poças de água beirando a calçada, quando viu o garoto dos olhos da cor de céu chuvoso. O garoto andava em passos calados, segurando um guarda chuva azul escuro. Seus cabelos louros estavam molhados e ele olhou para a menina.
A menina sorriu para as gotas que caíam do céu, e sorriu para o garoto. Ele não entendeu o que aquela menina fazia na chuva e não quis devolver-lhe um sorriso. -Eu não gosto de chuva, e não gosto de você! Disse-lhe, e apressou o passo, escondendo o rosto do vento.
A menina ficou olhando ele partir e a chuva continuava caindo. As gotas de lágrimas rolavam de seu rosto e misturavam-se com as poças de água da chuva.
A garota nunca mais gostou de chuva. Mas nos dias em que chovia ela olhava para as poças de água e via refletidos nelas os olhos acinzentados do garoto.