mas nós dançamos no silêncio

choramos no carnaval

não vemos graça nas gracinhas da tv

morremos de rir no horário eleitoral

sábado, 30 de abril de 2011

Outonos atrás.

Eu ainda sinto um pouquinho do perfume seu quando passo por aquelas ruas.

Lembro-me que você sacudia as árvores molhadas pela chuva e achava graça da minha cara furiosa e respingada. Sorríamos juntos e eu te abraçava, e nem mesmo o frio de fim de outono nos impedia de caminhar alguns quarteirões até o cinema.

Eu sorrio quietinha quando sinto o cheiro de pipoca de manteiga, quando lembro das nossas tardes de domingo, dos planos malucos que fazíamos e de todas as vezes que você derramava chocolate quente na camiseta.

Hoje eu só queria aquele abraço apertado, aquele beijo quente, nossas bochechas geladas, as covinhas do teu sorriso e o frio de alguns anos atrás.

Eu sempre te amei, mesmo durante o verão. Amei-te mesmo na distância e no silêncio daquelas tardes vazias. Perdoa-me por não te prender, não te fixar... Mas saiba que em todos os outonos, em todos os passos do meu caminho, em todas as trocas de folhas daqueles plátanos da pracinha, eu me lembro de você...

"Como as folhas secas pelo chão nas frias tardes de outono, veio o vento e te levou..."

domingo, 24 de abril de 2011

Posso sentar e esperar as coisas melhorarem, posso deixar tudo para trás, posso simplesmente fechar os olhos e fingir que está tudo bem, que está tudo certo, que ninguém errou e que as lágrimas em seu rosto nunca existiram. Posso colocar a culpa em mim e viver uma vida inteira carregando um peso imaginário nas costas, mentindo para o mundo que a culpada fui eu. E a vítima, a vítima sempre será você.

Deixe que corram os dias, os anos, as existências. Eu não me importo em parecer uma patética impulsiva que mete os pés pelas mãos de vez em quando. Mas eu carrego a fictícia culpa com uma leveza impressionante. Porque ela simplesmente não existe, é só para te ajudar, te tirar da reta e não limpar a doçura dos teus olhos tão depressa.

Afinal, eu nunca gostei de ser a vítima. Vítimas são tão insuficientes. Tão merecedoras de compaixão alheia por algo que alguém fez com elas e não por algo que elas fizeram para o mundo, digno de aplausos.

Por isso continua o meu sorriso, o meu abraço apertado, as minhas piadinhas sem graça no meio do silêncio de uma aula chata. Porque eu continuo, porque eu sou, porque eu fiz e porque eu tentei. Eu não preciso de uma música ou de um perdão. Porque eu me perdôo todos os dias. E afinal de contas, eu preciso mais de mim do que de você.