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choramos no carnaval

não vemos graça nas gracinhas da tv

morremos de rir no horário eleitoral

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Quando nada posso.

Olhos tão negros, tão limpos, tão fundos como o fundo de um poço em meio ao deserto. Teus olhos que escondiam de mim tanto sentimento, escondiam-se do mundo, sorriam sozinhos, sem a boca, sem o riso, com um brilho estonteante de uma lua cheia.

Teus olhos que visitavam minha porta, minhas roupas, minhas botas empoeiradas. Visitavam o meu sorriso, meu rosto, meus gestos. Mas quando encontravam os meus olhos – entravam - bagunçavam a alma inteira e paralisavam-me como o veneno de uma serpente.

Depois de tanto tempo, lembro-me daquelas noites, como se fosse ontem. Vejo a tua pele tão branca, tão fosca, na fotografia marcando a página em que parei de ler o livro dias atrás. E não continuei. A lua crescente e a luz azulada que eu via em torno de você, o lago negro, turvo, o abismo dos olhos teus. Onde andarás tu? Em qual rua, em que fuso horário? Serão teus olhos ainda tão negros, ainda tão doces, ainda tão desconcertantes? Será teu coração aquele que ainda bate tão forte, tão insistente, tão cheio de uma deliciosa e manipuladora paz?

Hoje eu só saí a noite para colocar os pés na rua, erguer o rosto para a garoa fina, me esconder das estrelas embaixo das nuvens de incertezas, e ver você dobrando a esquina, com os olhos da cor da noite, me pedindo se ainda está tudo bem. E deixe que todos falem, que todos nos apontem e chamem-nos de loucos. Mas não estaremos aqui, não estaremos vendo o pó da calçada nem ouviremos o barulho dos carros. Eu estarei em você e você em mim.

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